domingo, 27 de dezembro de 2015

Suplementação com L-carnitina: mitos e verdades

Com a promessa de ajudar na queima de gordura e no emagrecimento mais rápido, a L-carnitina tem sido amplamente vendida em lojas de suplementos alimentares no Brasil e no mundo, mas será que ela realmente funciona? A resposta é não, e tem mais, um estudo publicado em abril na revista Nature Medicine, uma revista muito conceituada na área de saúde, mostrou que um consumo excessivo da substância pode ser prejudicial à saúde.



A L-carnitina é uma substância presente naturalmente nos alimentos principalmente nas carnes vermelhas e laticínios e pode também ser consumida através de suplementos alimentares. Por ser responsável em transportar os ácidos graxos (“gordura”) para dentro da mitocôndria das células musculares onde ela será oxidada (“queimada”), acredita-se que quanto maior o consumo de carnitina, maior a sua concentração dentro do músculo e portanto maior o transporte de gordura para dentro das mitocôndrias, resultando em uma maior queima de gordura corporal.

Parece muito promissor, certo? Errado. A biodisponibilidade (“absorção”) da carnitina é muito baixa, ou seja, apenas 5-15% do que consumimos chegam até o músculo (onde elas devem agir), o restante permanece na corrente sanguínea até ser excretado pela urina. Estudos com suplementação oral de carnitina (de 1 a 6g/dia) mostraram aumento da concentração de carnitina no sangue, entretanto as concentrações no músculo esquelético foram pequenas ou nulas. Além disso, não existe um consenso de que o transporte de ácidos graxos pela membrana mitocondrial seja etapa limitante no processo de oxidação lipídica.

Duas revisões recentes (BJSM, 2009 e ISSN, 2010) concluíram que a suplementação (2 a 6g/dia por 1 dia a 4 meses) não alterou o metabolismo energético e o conteúdo de carnitina intramuscular.

Mesmo assim as pessoas continuam consumindo os suplementos com L-carnitina como um recurso ergogênico para perda de peso. Recentemente um novo motivo foi descoberto para não se consumir a L-carnitina.

A pesquisa publicada na edição de abril da revista Nature Medicine concluiu que quando metabolizado pelas bactérias do intestino, a carnitina produz uma substância chamada de TMAO. Essa substância é responsável por aumentar as chances de aterosclerose, caracterizada pela obstrução dos vasos sanguíneos — o que pode levar ao infarto.

Portanto, se você quer aumentar a queima de gordura corporal pratique uma atividade física. O exercício, mais do que comprovado, aumenta receptores de ácidos graxos importantes no processo de oxidação lipídica e não faz mal à saúde!

escrito por Serena del Favero

Serena del Favero

Nutricionista graduada pela USP, Mestre em Educação Física pela USP, Especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP

http://www.serenadelfavero.com.br/